Eu circulava pelos camarins em busca de
um rango. A credencial em meu pulso me garantia uma certa autonomia
de modo que me sentia livremente em meio aos artistas. Como em um
churrasco entre amigos cumprimento todo mundo e puxo um papo aqui e
outro ali.
E realmente encontro um antigo conhecido
do rap, Cocão, integrante do grupo Versão Popular, há quase 18
anos na estrada. Com uma long neck na mão abordo aquele rapper
poeta e relembro as noites que já passamos em saraus da periferia de
São Paulo. Durante aquele rápido bate papo pergunto sobre a nova
cena do rap.
“existe uma cena... um movimento..
existe um monte de coisa. Então eu digo que é um estilo de vida com
um movimento. E aí a cada tempo vai amadurecendo a cena. Vejo ela
sendo mudada, sendo inovada.
As coisas vão evoluindo.. vão mudando… e a gente começa a mudar automaticamente com isso”
Aquela ideia aguçou minha curiosidade e
questiono sobre a aparente fase rentável do rap nacional.
“O Criolo, o Emicida... colocaram um
rap numa cena muita foda! Acrescentaram muito pro mercado da música.
Rap no mercado de empreendedorismo... roupa.. fashion. O estilo dos
caras chegou em diversos ambientes. É um movimento que auto se
sustenta e os caras que são mais novos tão vindo nessa pegada de
empresa… organizando um bom release, uma boa fotografia, marca de
roupa...”.
Alguns alucinógenos começam a fazer
efeito em minha mente a ponto que me perco naquela conversa de
camarim. No palco ao lado uma banda fazia um som dançante e aquela
música pulsava em mim de modo que só conseguia falar sobre
ritmo... e o Cocão atento mantém o assunto no rap.
“Cada vez mais se usa instrumentos
orgânicos. Acho interessante, dá uma avivada no trabalho. Eu já
fiz participações com a banda Poesia Samba Soul.. fui convidado pra
participar de uma música com o grupo Ó do Forró.. estamos fazendo
um rap com sanfona”.
Admirado com essa proposta questiono
porque o rap antes não utilizava tantos instrumentos e mantinha mais
em base de DJ's... perde a atitude? Tem mais a ver com a escola
original do rap? Preconceito?
“O negócio era de ter a
oportunidade... eu comecei a andar, tá infiltrado com músicos..
então não é que eu tinha preconceitos... é que eu não tinha
conhecimento, e isso é importante. Eu por estar na Cooperifa tenho
uma linha mais poética. Na Cooperifa eu tive mais acesso a
literatura, então a partir desse momento eu começo a ter outras
ideias pras músicas. Começa abrir um leque de informação. E acho
que o importante é respeitar o limite... essa música pede isso..
essa música pede aquilo.. dá pra colocar um pandeiro ou não. Aí
vai de cada um”.
E com toda essa experiência o
rapper-poeta chega agora com seu trabalho solo... Cocão Avoz.
Confere aí...
por Fagner Branco "Gastão"