O aquecimento começou na quinta-feira a noite, dia 23 de fevereiro, no Bloco "A Espetacular Charanga do França", no vão do MASP. Mesmo com a ausência de alguns integrantes o organizador Tiago França estava lá, com seu saxofone e a famosa charanga para coordenar a batucada na beira da Avenida Paulista. Caixa, surdo, um conjunto de metais e a galera com muito brilho coloriam a cidade cinza e chamavam a atenção das pessoas mecanizadas e aceleradas moradoras da capital.
Foto: Júnior Improta |
Subiu minha empolgação, me enchi de sede e resolvi falar com ambulante que vendia “danoninho da Ambev”, o suco de trigo, ou melhor dizendo, de milho, estava 3 por 10 reais. Perguntei para o rapaz se ele tinha outro produto, ele lamentou e disse: "A Ambev consegue colocar ambulantes para vender legalmente na rua, mas somos aprendidos se formos pegos usando outro isopor ou vender outros produtos".
Sempre preferi comprar de ambulantes, mas nesse caso fui pegar uma no bar com fila imensa e cai pra galera da charanga ao som de Michael Jackson em versão de marchinha. Repertório lindo e os foliões por si só legalizando, me fez fumar e brisar que o carnaval recebeu uma metamorfose da Ambev em seus ambulantes, quando era ilegal era mais legal. Com famosos temas musicais do Brasil e do mundo, músicas autorais e gritos de Fora Temer, a Charanga do França fez minha cabeça e abriu minha porta para o Carnaval 2017.
Sábado de carnaval a folia foi em Embu das Artes (Grande São Paulo), levei na lancheira duas parangas e umas graminhas de haxixe, a concentração foi as 14hrs no centro histórico com o Bloco Desbundas Artes. Com integrantes artistas da cidade, alguns músicos e outros não, o bloco ensaia com quem quiser tocar e quando chega o carnaval, os novatos já estão segurando com cachaça na cabeça o rojão com coco de roda, hinos do bloco e marchinhas tradicionais. Os hinos do bloco são bem humorados, fala da tradição do bloco, traz temas políticos e a missão do carnaval, unir os "Coxinhas" e "Petralhas", além de uma frase em tom de pergunta irônica que sempre ecoa entre as músicas e representa bem a folia brasileira, "Posso continuar Bêbado!?".
Foto: Ivann Vaudy |
Um boneco do Presidente Trump enfeitava o carro de som e seguia em cortejo entre as barracas da feira de artesanatos do Embu. Marchinhas como cabeleira do Zézé cantadas sem homofobia, "deixa o cabelo dele??". Chuva de purpurina, espuma, confetes e serpentinas caía sobre minha cabeça, com um tanto de erva do boldinho na jaca, nem notava. Mas quando era em cima da minha cerveja, bebia e perguntava: "Poxa, quem inventou a porra do spray de espumas?".
Foto: Alexandre Urch |
Sábado, dia 04 de março pós carnaval, fui ao Cordão do Jamelão na Bela Vista, na cesta do picnic continha MD, LSD, Cannabis, isopor, catuaba e cerveja. Ponto de encontro é o
Foto: Luiz Eduardo Chaccal |
Há mais de 7 dias eu bebi, tomei e fumei minha dignidade, o domingo pós carnaval sobrou a ressaca e mais um Bloco. Esse é na região do Butantã, zona sul de sampa, o "Te Pego no Cantinho". O calor intenso me lembrava com azedo na boca as coisas que usei no dia anterior, nada melhor que as primeiras 6 cervejas e um fino pra curar. Acho que não teve bloco melhor para sair dessa ressaca que o "Te Pego no Cantinho", a maioria dos homens se vestiam de mulheres, o bloco misturava ritmos, de samba, marchinhas, músicas autorais, funk e samba-reggae. Durante o cortejo uma forte chuva pegou o bloco, mas o som não parou.. glitters e maquiagem derreteram, as roupas ficaram pesadas e caindo, alguns foliões rolavam no chão, outros usavam beira do telhado como cachoeira, mulheres fizeram topless e todos cantavam hinos do bloco com letras bem humoradas e em prol do LGBT. "Te Pego no Cantinho" provou ser um dos blocos mais pra frente de SP.
Volto
pra casa com a ressaca acumulada da semana inteira e antes mesmo de
chegar em minha cama retorna em minha mente aquela clássica pergunta
do Desbundas Artes que insiste em me atrair. "Posso continuar
Bêbado!?".
Por. Código Nóize.
Por. Código Nóize.