Onde está o pó?



Por Mauro Moura

qual podia ser meu futuro encostado naquele Monza marrom? A grande dúvida se unia a impossibilidade de qualquer tipo de certeza da minha parte, porque eu juro... não sei onde está o pó!

Só restavam quatro cigarros, calculando um por cada duas cervejas e um bom parceiro de copo, seria o número exato para uma tarde perdida. Na matemática do bar, oito é dez, doze, choro, saideira... e tarde ou noite, ainda pode ser cedo.

Era lá que eu estava, em meio a um debate inflamado onde se revistava barraco e fuçava a brasilit de ponta a ponta, enquanto um menor que entre os cinco, parecia ser o mais alterado andando pra lá e pra cá, falando trezentas gírias por metro quadrado. O pacote da erva estava lá, o de pedra também, e pra piorar, o Carlão, dono do barraco é um antigo farinheiro conhecido na favela, e justo o pacote dos pinos que estava mocozado em seu telhado, sumiu... como numa fungada mágica.



Todo mundo alterado... indireta, olho no olho, dedo na cara e meu cu na mão. De um prazeroso jogo da libertadores, onde meu time passou para a próxima fase, me teletransportei alcoolicamente pra um debate de biqueira. Aos olhos da malandragem eu estava do lado do Carlão, mesmo sem me manifestar em nenhum momento e não ter me desgrudado do Monza, quando os manos do tráfico intimaram ele a dar conta do pó, eu estava junto, e sabe como é né malandro? Tá junto, tá junto.

O Dinho, primo dele era o único que o defendia e segurou a bronca sozinho... botou a mão no fogo por Carlão e queria resolver essa fita com o patrão da rapaziada. “Pode revistar essa porra então pra ver se acha alguma coisa no barraco do meu primo, nóis num precisa disso não caraio”. Um dos caras do movimento respondeu todo putinho da vida. “Não sou polícia pra ficar revistando casa de ninguém não tiozão, só quero meu pó e já era”.



Que beleza! Ele me deu uma grande ideia pra aumentar meu medo. E se chega a porra da polícia e me tromba lá?! Com aquela cara de que tá passando a brisa da breja a força, sem nem um cigarrim pra aliviar o choque e aquele monte de malaco cheio de flagrante gingando e falando alto... ia ficar bonito?

A tarde linda e toda filosofia de bar que eu não dei valor, com o sabor dos primeiros e melhores drinks, fizeram um grande feixe de luz retrógrado iluminando todos os bares que passei, após sair das primeiras oito cervejas, em anexo com som de cada porta cinza que se fechava e desenrolava na minha cara, clareando todas as arapucas na qual meu corpo se jogou, enquanto eu olhava pela janela do Monza com o mais singelo olhar de quem quase se fudeu.

O dia veio, e eu sentia o gosto de ontem... um abismo e um rio de cerveja separava o tempo e o espaço, sem nenhuma explicação para o buraco negro, que me levou de um bar em um bairro tranquilo, para uma treta dos grandes soldados de carne e osso, camisa polo e 125 cilindradas.

Talvez aquele Monza fosse o DeLorean da quebrada e eu o Backfly... minha única certeza é que, não sei onde foi parar o pó.
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